segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

RARO EXEMPLO DE UNIDADE / PORTUGAL UMA ESPERANÇA E UMA CERTEZA PALESTRA PRONUNCIADA QUANDO DA INAUGURAÇÃO DO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS, NA PRAÇA DE D. LEONOR EM CASTELO BRANCO, EM 10 DE JUNHO DE 1960.





JOÃO FRADE CORREIA

RARO EXEMPLO DE UNIDADE

PALESTRA PRONUNCIADA QUANDO DA INAUGURAÇÃO DO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS, NA PRAÇA DE D. LEONOR EM CASTELO BRANCO, EM 10 DE JUNHO DE 1960.

I

A nossa vida, a vida da maioria dos homens, continua hoje como tem sido até aqui, se é que não tem piorado: — a mesma despreocupação com as realidades essenciais; a mesma banalidade; os mesmos hábitos de rotina; o mesmo artificialismo nos actos e descolorido nas ideias. Uma vontade que enfraqueceu na moleza dos costumes, dando lugar à exaltação de tudo quanto é instintivo e emocional no homem. Não é, certamente, com esta apatia interior, com esta falta de confiança nos homens e com a ausência de fé em Deus, que poderemos modelar o mundo de hoje digno de um futuro promissor de virtualidades humanas.
Não é dos tempos que nos temos de queixar, mas dos homens. Antes da última guerra, já muitos pensadores nos advertiram de que a Europa estava em decadência espiritual, minada por idealismos estéreis e por moleza nos costumes e nas instituições. E, talvez por isso mesmo, os nossos tempos se caracterizam pela inversão dos valores que cimentavam a nossa civilização e pela intranquilidade nas consciências, pela insegurança dos bens e das próprias vidas. Século de efervescência, ele é, sem dúvida, o mais decisivo para a nossa civilização e o de maior responsabilidade na estruturação dos novos caminhos que as gerações hão-de percorrer! Século de entrechoque de várias ideologias e civilizações, poderemos submergir na onda do materialismo ateu que está de mãos dadas com a erupção catastrófica dos instintos dos indivíduos e povos imaturos que em busca de uma fictícia independência cometem as maiores das atrocidades.
Os mais pessimistas vêem já dissorados os valores que cimentaram e engrandeceram a civilização cristã. E, então, tentam criar novos valores, arvoram os seus estandartes à liberdade dos homens e dos povos, como se a liberdade fosse apenas o desenfrear dos maus instintos ou a satisfação da sua sede de vingança.
Outros, porém, os que conseguem serenar os ânimos no meio da exaltação e confusão do mundo em que vivemos, pensam de maneira diferente: — que é preciso que o homem se reencontre em toda a sua dimensão de homem, readquira a fé no seu destino, conheça a sua verdadeira posição na terra e se prepare conscienciosamente para a grande batalha dos nossos dias. Há que desenvolver no homem todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais. Se as primeiras constituem a nossa realidade pela qual nos integramos nas leis da natureza, as segundas são a sublimação, direi mesmo a divinização dessa realidade.
Sejam quais forem as provas a que a Providência submeta os povos, nós temos a certeza de que os valores sobrenaturais hão-de prevalecer, precisamente porque têm na sua essência a perenidade dos seus princípios.
As nações não se podem talhar a belo prazer dos homens, nem estes, sejam quais forem as suas ideologias e ambições, as poderão desfazer por capricho ou conveniência. Há um fluido maravilhoso que prende as gerações presentes às do passado e apesar de vivermos o momento mais decisivo da nossa civilização, cabe-nos auscultar bem a crise para mais facilmente a debelarmos. Muitas são as correntes de pensamento que atacam tudo quanto nós consideramos verdadeiro e sagra-
do e, por isso, é nas profundas estruturas da nossa vida espiritual que a nossa acção se deve fazer sentir. Nunca a desagregação foi tão grande, mas parece-nos que jamais a história conheceu um período de maior e mais salutar reacção.
A crise avassala o indivíduo, o lar e as massas. O indivíduo falhou, depois de todas as experiências feitas no campo ideológico e social. Resta-nos restaurar a pessoa humana para que o homem não continue por mais tempo a ser foguete dos caprichos das massas desorientadas. E indispensável que o homem veja e analise bem os seus erros, descubra e conheça as suas misérias e que não consinta que o ambiente da nossa época continue a intoxicar o futuro de seus filhos.
É necessário que o homem de hoje descubra que tem alma e viva e respire o ar puro das paisagens eternas. Deixemos o indivíduo, o homem natural escravizado às leis naturais e biológicas e salvemos a pessoa humana, que é livre, não porque venceu, mas porque se venceu.
Só nessa altura, ligado à salvação da pessoa humana encontraremos a salvação da própria Europa, a salvação da cultura cristã.
Portugal não pode isolar-se do grande drama dos nossos tempos. A África está em efervescência e na África nós temos Portugal que necessitamos continuar. O drama social existe em todos os continentes e em todos eles sentimos a presença viva de Portugal. Por isso mesmo precisamos de ter um sentido profundo das realidades sociais e psicológicas da nossa época.
Há que reagir contra tudo o que entorpece e avilta e ter uma noção clara dos nossos tempos. Dar à nossa juventude uma educação cristã, autêntica, debruçada sobre as realidades, sociais e as grandes feridas da nossa sociedade. E necessário por de parte todo o formalismo que entorpece e mata o espírito criador; acabar com certo sentimentalismo doentio que arrasta o homem ao cumprimento dos deveres exteriores, mas que não leveda a massa interior da nossa verdadeira vida anímica.
Repetimos, é preciso fazer circular nas nossas veias o sentido das verdades eternas, que liga as gerações presente às do passado, seiva mística que alimenta as almas e lhes dá continuidade, razão de ser e a força rejuvenescedora que une os homens e aquece os seus ideais ao calor sacrosanto da chama das Pátrias. Por isso mesmo, aqueles para quem as Pátrias não têm fronteiras, jamais conheceram o sabor, o brilho, o entusiasmo e a grandeza dos verdadeiros ideais da vida. Lutam pela grandeza do homem decepado, do homem algemado ou até do homem enfurecido, que com todas as suas liberdades, se vai tornando o ser mais infeliz da terra. Homem que quer ser livre mas ficou escravo das leis naturais, dos seus próprios instintos e para quem a cultura se confundiu ou confunde com a própria noção de técnica. Do homem que, negando toda a transcendência, ficou manietado a um colectivismo que nada resolve e a um ateísmo que atrofia as melhores potencialidades da alma humana.
E é com estas novas concepções da vida, novas, diferentes e antagónicas à verdadeira formação e dignidade do homem, que se levedam povos sem naturação para lhes dar uma independência ilusória, porque, no fundo, os indivíduos que os constituem ficam não só escravos dos seus próprios mentores como também enraizados para sempre à cepa hereditária que jamais conseguiu ser enxertada nos ideais elevados da vida. Os que se dizem mais civilizados e os impulsionam estão dominados pela técnica e pelo econismo e os outros, os mais atrasados, são presa fácil das suas ambições.
A técnica dando-nos comodidades, não nos deixa gozar tranquilamente essas comodidades; pondo tudo à nossa disposição, tudo nos rouba, pelo menos o que mais falta nos faz ao aperfeiçoamento da nossa vida interior: o silêncio e a tranquilidade de consciência, indispensáveis para apreciarmos, objectivamente, toda a beleza do universo e da vida. A técnica, que não é um mal, quando bem orientada, não só está contribuindo para a completa despersonalização do homem, mas ainda para a sua total desumanização. Vamos perdendo com o silêncio da nossa vida interior todo o encanto que ilumina as coisas que nos cercam e o verdadeiro sentido da vida. Querem as novas ideologias salvar o homem com o progresso material e económico, mas esquecem a pessoa humana e a sua valorização total. O progresso da humanidade deve-se, sobretudo, à qualidade e não à quantidade dos homens que a constituem.
O nosso século é, sob muitos aspectos, bem pior do que aquele em que os bárbaros assolaram a Europa!...
O mundo está sendo vítima da ciência mal orientada e dos ídolos que os homens divinizam. Esperemos que tudo se recomponha e que os verdadeiros valores da vida voltem não só a ocupar o lugar que lhes compete, mas ainda a abrir novas clareiras para o futuro: ao mundo dos sem-Deus seguir-se-á o mundo da verdadeira interioridade. O homem terá um dia necessidade de se debruçar sobre si mesmo e, só então, se reencontrará em toda a sua verdadeira grandeza e, no mais fundo da sua alma, sentirá o reflexo divino, arrancando-lhe as verdadeiras potencialidades que hão-de estruturar as nossas camadas sociais.

II

Felizmente o caso português apresenta características bem diferentes.
Sacrifícios sem conta criaram, cimentaram, e alargaram o nosso território. Portugal nasceu, desenvolveu-se e espalhou-se à sombra da Cruz. Desde os primeiros tempos que a Igreja desabrochou as nossas virtudes, e deu mesmo um sentido ecuménico à nossa própria cultura. A época de alargamento territorial, sucedeu-se um período de intensa vida espiritual e é ainda a Igreja, com as suas diversas ordens religiosas, que dá uma feição peculiar ao nosso País. E, quando sentimos necessidade de expansão, mais do que nas caravelas, os portugueses levaram impresso nas almas o amor de Cristo. Em plena Idade-Média o homem tinha-se descoberto em toda a dimensão natural e sobrenatural. O Cristianismo decifrara todos os enigmas do coração do homem. Este já sabia a sua origem e o seu fim e conhecia, igualmente, que a terra era um simples lugar de passagem.
Foi movido por esses ideais que Nun'Álvares sacrificou a vida, não só robustecendo a nossa independência, mas criando um clima novo, donde brotou, guiado pela mesma fé, o gigantesco esfor-
ço, a clara visão — direi mesmo a penetrante antevisão — do Infante D. Henrique. Esses ideais tinham em si a força impulsionadora das grandes lutas e a semente admirável da humildade. Por isso Nun'Álvares, cumprindo o seu dever para com a Pátria, cumpriu-o, depois, igualmente, para com Deus. De joelhos em terra e mãos postas — a maior dimensão do homem na terra — fitando o Céu, donde lhe vinha toda a irradiação dos seus sentimentos, Nun'Álvares soube ser o militar intemerato e o santo fervoroso. Foi a mesma chama que fez do Infante D. Henrique o monge de Sagres, abrindo ao País e à Europa de então as cortinas do mundo desconhecido. Sonhou, antes de realizar, mas realizou precisamente porque sonhou muito! Por intuição, uma mística intuição das almas que tentam ler nas estrelas os segredos do infinito, o Infante soube objectivar o seu sonho e os grandes sonhos são sempre a antevisão das grandes realidades.
Se nos orgulhamos da obra do Infante D. Henrique e de quantos lhe deram continuidade pelos séculos fora, não sentimos menos orgulho por quantos propiciaram esta oportunidade de exaltação do mais puro patriotismo. Outros ventos sacodem agora os continentes, ventos bem diferentes, direi mesmo adversos e que vêm submeter as gerações presentes talvez à mais dura prova que a defesa da nossa civilização nos poderá exigir. Andam atormentados e inquietos os povos em busca de certezas que não encontram e de verdades que não existem.
Os nossos ideais mais caros, ideais que deram vida e realidade aos anseios e projectos do Infante, estão ameaçados. Se à Europa parece faltar aquela unidade espiritual que nos deu a verdadeira razão de ser, a África está sob um vulcão tremendo e, por isso mesmo, são cada vez mais incertos os seus dias. E é bastante consolador que nós, portugueses, sejamos uma certeza no mundo convulsionado que nos cerca. Em todos os continentes, Portugal está dando, serenamente, ao mundo, a maior lição que este até hoje conheceu. Constituímos uma unidade espiritual, na grande diversidade geográfica que forma o nosso império. Graças ao sentido cristão que está nas raízes da nossa expansão, unimos povos das mais diferentes raças e línguas. Unidade que se cimentou na península ibérica e se alargou além-Atlântico, como sucedeu no Brasil, precisamente porque os valores eternos aproximam as pátrias mais distantes. As raízes mais fundas do grande povo brasileiro estão na velha casa lusitana que a espiritualidade remoça e os sonhos do passado purificam. Se soubermos aproveitar esta lição de hoje, encontraremos nos sonhos do Infante o contínuo remoçar dos nossos ideais e Portugal, unido ao Brasil, terá no futuro uma luminosa projecção, abrindo às gerações vindouras os grandes caminhos de novas sementeiras de grandeza. É este o segredo da nossa História!
Também Portugal e a Espanha se reencontraram em nossos dias e essa união será bastante útil à difusão e consolidação do cristianismo.
Com a comunidade luso-brasileira terão, num futuro não muito longo uma importância vital na estruturação e consolidação das futuras sociedades. Unida à Espanha e a toda a América latina, constituirá o núcleo de irradiação que se projectará no futuro !...
Graças ao esforço de tantos portugueses, foi possível que a nossa Pátria se fosse enriquecendo através dos tempos, se projectasse além dos mares, despertando noutros povos o mesmo sentimento de unidade espiritual que nós devemos perpetuar mesmo a custa dos maiores sacrifícios.
Sem dúvida que são de luta os nossos tempos. São tempos de inquietação, efervescência e confusão!
Mas para que queremos nós todo o entusiasmo dos nossos corações? Para que nos deu Deus a sede ardente que nos levou a devassar continentes, a atravessar os mares, no meio das maiores inclemências? Para que nos deu Deus toda essa riqueza emocional, toda a nossa fé e todo o calor que abrasa os nossos corações? Para desbaratarmos tudo isso nas lutas estéreis da vida? Poderemos nós consentir que todo o esforço e sacrifício dos nossos antepassados seja perdido ingloriamente para prejuízo da própria civilização cristã?!
Sabemos que um vento satânico varre os continentes; que para salvarmos a civilização cristã nos esperam muitos sacrifícios; que a Escola tem imensa responsabilidade na formação e orientação da nossa juventude, donde hão-de sair as novas forças orientadoras do futuro da civilização cristã; sabemos que são cada vez maiores as dificuldades a vencer, mas, apesar de termos a clara consciência de tudo isso, nós queremos continuar a ser dignos herdeiros dessas gerações de sacrificados que souberam, ontem como hoje, manter a unidade do nosso património material e moral no meio da diversidade ideológica e da confusão dos nossos tempos.
Embora de outra natureza, as dificuldades que o futuro nos esperam não serão inferiores às que tiveram de vencer os nossos antepassados. Sabemos que será assim, porque sabemos que as fogueiras da insubordinação hão-de rebentar por todos os lados à volta da terra portuguesa. Sabemo-lo, por isso temos que nos preparar para enfrentar todas as dificuldades!
Também esperamos que virá ainda o dia em que, nesta cidade, uma estátua perpetue o nome de Nun'Álvares, pois ele nos honrou pelo nascimento, pela sua bravura e pela sua santidade.
Aqui deixamos a nossa homenagem, neste
simples padrão ao Infante D. Henrique, modesta embora, mas que tem profundas raízes no nosso coração. Do seu esforço e tenacidade, da sua cultura e fé profunda resultou a dilatação da fé e do império e é com orgulho que, depois de tantos séculos decorridos, ainda tenhamos intactas as terras que os teus sonhos anteviram e a Pátria que a fé robusteceu !...
E nas alturas que nascem os rios! Foi nas alturas do Céu que nasceu todo o esforço dos que nos antecederam e queremos ainda que seja com os olhos nas estrelas e os pés na realidade que tracemos os caminhos do futuro!

* * *

Uma nova forma de imperialismo e colonialismo alarga-se hoje a todos os continentes e as suas conquistas dominam já cerca de duzentos milhões de pessoas. O processo utilizado é simples e reveste dois aspectos, como todos os movimentos sociais: um de carácter espiritual e outro exclusivamente material, embora para nós os dois aspectos se fundem no último.
Quanto ao primeiro, nega-se toda a transcendência : O homem fica, deste modo, sujeito às leis naturais e escravo das mesmas leis. E porque a Igreja desempenhou sempre, a partir da Idade Média, um papel importante na unidade dos povos, houve e há a preocupação de negar o seu valor para reduzir tudo è solução do problema económico. Para isso, os seus defensores dividem a sociedade em duas classes: a dos exploradores e a dos explorados. Logo há que dar a estes — dizem — não só direitos políticos: o caso de se lutar pela fictícia independência de povos imaturos, mas ainda as necessárias condições económicas. A custa dessas liberdades e numa actuação que é a mais completa negação da verdadeira liberdade humana, vai esse imperialismo estendendo os seus tentáculos e reduzindo até os povos cultos à mais desumana das escravidões.
A questão principal que hoje se põe à consciência dos homens responsáveis pelo destino dos povos parece-me ser esta: Existe ou não existe a colonização? No caso de existir, será esta condenável ? Libertadas certas possessões da tutela dos povos que as orientam ficarão aqueles povos em melhores condições sociais? Mas se eles não têm a necessária maturidade intelectual, quem os poderá orientar? Se os mesmos deixarem de receber a influência dos povos cristãos, qual o pensamento ideológico que os animará? A esta questão ou questões, está ligado o futuro da civilização cristã. Esta precisa, para sobreviver e se impor, de continuar a exercer a sua influência, directa ou indirecta, nos povos que conquistou, ao mesmo tempo, que tem necessidade de estreitar cada vez mais os laços com os povos de civilização idêntica. Tem sido o caso, que de alguns anos para cá, se tem passado entre Portugal, a Espanha e o Brasil. Da união destes povos depende, em grande parte, o futuro da civilização cristã.
Outra questão se levanta nos nossos dias bastante dolorosa: a colonização dos povos que há centenas de anos viveram independentes e que independentes desejam continuar. Não se trata apenas da escravidão dos povos, mas da própria escravidão das consciências. É uma espécie de amarfanhamento ideológico, esmagamento de almas, tortura moral acompanhados de uma ruptura de costumes e tradições que alicerçaram as suas civilizações. Logo a primeira preocupação dos povos peninsulares deve consistir também em preparar elites que vivam profundamente a essência do cristianismo e que, utilizando processos adequados dos nossos tempos, o possam derramar sobre as almas das massas. E a sementeira do espírito.
Precisamos, em primeiro lugar, de métodos novos, métodos que estejam à altura das exigências dos nossos tempos.
A nossa civilização identifica-se com a verdadeira civilização cristã, na medida em que der a conhecer ao mundo o Cristo autêntico. Cristo, despido dos preconceitos dos tempos. Cristo, alavanca das almas. Cristo, às vezes escarnecido por tantos católicos! Cristo, sobretudo, temido pelos inimigos! O que as civilizações materialistas temem é o Cristo verdadeiro! Receiam a limpidez, a transparência do seu olhar que penetra até aos mais recônditos refolhos das suas almas! Eles pretendem quebrar a escada que liga a terra ao céu! E se tal sucedesse — e sucede já em tantas almas!—era a conquista dos desertos da nossa vida interior. A civilização dos sem-Deus é essencialmente a conquista e sementeira dos desertos da alma, a intoxicação das consciências, a deturpação dos valores.
Portugal e a Espanha nas caravelas de quinhentos levaram ao mundo a sementeira divina. Por Cristo se sacrificaram milhares de almas. A essência da civilização cristã atingiu o máximo de exaltação e grandeza na Idade Média e o máximo de expansão no período das descobertas. Mas confessemo-lo claramente; a civilização cristã verdadeira, a que é filha do Cristo vivo, de Cristo Redentor, do Cristo-interioridade... ainda exige todo o nosso esforço, no presente e no futuro. Se os nossos tempos nos pertubam são porque não estamos psicologicamente preparados para os enfrentar!
Portugal, o Portugal de aquém e além-mar, é hoje uma unidade psicológica e moral, a unir uma tão grande diversidade geográfica. Está fora de causa o considerar-se um país colonial. Esta é a maior lição dada aos tempos confusos que atravessamos! Continuar esta ideia, mesmo à custa dos maiores sacrifícios, deve ser hoje a preocupação das novas gerações. Estarão elas preparadas para empresa de tanta responsabilidade?
É certo que a Península Ibérica não está sob o aspecto técnico e militar, tão bem preparada como as grandes nações. Mas não devemos esquecer de que o Cristianismo, sem o emprego de armas, venceu a onda dos bárbaros que invadiu e saqueou a Europa. Nova onda de bárbaros derramam hoje os seus tentáculos sobre o mundo inteiro. E não tenho dúvidas de que só uma preparação consciente, um grande ideal, lhes porá um dique às suas ideias de expansão, de colonialismo.
Para isso devem a Espanha e Portugal ter elites psicologicamente preparadas para enfrentar os acontecimentos; o futuro deve exigir esse esforço. E dele dependerá o próprio futuro da nossa civilização.
Não devemos permitir que se destrua o que levou séculos a criar e a cimentar!
Esse padrão que aí deixamos de homenagem ao Infante D. Henrique, logo à entrada da nossa cidade queremos que o seu significado fique bem gravado em nossos corações. Padrão que a juventude da nossa cidade, das nossas escolas, quis, num gesto comovente, oferecer ao nosso Delegado Distrital. Bem hajam, pois, todos quantos contribuíram com a sua dádiva material: Senhor Governador Civil, Presidente da Junta Distrital, Presidente da Câmara Municipal, Directores de estabelecimentos de ensino e a própria juventude... para que pelos tempos fora fique a perpetuar este gesto rico de patriotismo e de simbolismo, nas nossas próprias almas e nas almas das gerações que nos hão-de suceder.
À efervescência desorientadora dos nossos tempos; à descristianização das consciências e à inversão dos valores da vida... oferecemos nós, portugueses, este raro exemplo de unidade!
Camões!... como nos sentimos orgulhosos por vermos que o seu dia é o dia de Portugal! Por isso mesmo nesta hora solene acendemos o círio das nossas almas para iluminarmos os dois livros mais grandiosos da nossa vida : a Bíblia e Os Lusíadas. A Bíblia que nos une espiritualmente a Deus. Os Lusíadas que nos unem para sempre à Pátria que criamos, amamos e queremos manter para todo o sempre.
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PORTUGAL UMA ESPERANÇA E UMA CERTEZA

Regresso às origens

1- Na história das nações há influências, por vezes imperceptíveis, que parecem comandar quase todos os seus acontecimentos. Estão na base dos diversos movimentos sociais e é fácil ao observador atento e experimentado verificar se esses acontecimentos são ou não estranhos àquelas influências. os homens que orientam a vida política dos povos, podem fazê-lo sem o conhecimento dessas realidades intrínsecas, mas apenas influenciados pelas correntes do pensamento predominantes no seu tempo ou, o que é mais frequente, por razões rxclusivamente económicas. Quando isto sucede, existe sempre um divórcio entre a orientação seguida e a que é exigida pela verdadeira vida das nações. Mas quando coincidem, os homens responsáveis encontram a verdadeira linha de rumo dos povos e das suas instituições.


2 comentários:

Alexandre Frade Correia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
margarida disse...

Que sábias palavras!

(...)Não é dos tempos que nos temos de queixar, mas dos homens(...).

(...) é preciso que o homem se reencontre em toda a sua dimensão de homem, readquira a fé no seu destino,(...)
(...)Sejam quais forem as provas a que a Providência submeta os povos, nós temos a certeza de que os valores sobrenaturais hão-de prevalecer, precisamente porque têm na sua essência a perenidade dos seus princípios(...)