CAI NEVE
A M. ROSEIRO,
Lentamente
Cai a neve
E em breve Põe tudo da côr do linho;
Cai neve, cai de mansinho!...
Os telhados
Já alvejam;
Não verdejam Os campos tão deleitosos.
Vão os regatos chorosos!...
Cai a neve
Mansamente...
De repente
Calaram-se os passarinhos!
E pisam-na os pobrezinhos
Tão errantes
Tão gelados,
Desgraçados!
Vão descalços e rotinhos
Os tristes dos pobrezinhos!!!
Cai a neve,
Choram fontes
Pelos montes
E a neve cai lentamente,
Mansa e fria! De repente
Tudo é branco,
Tudo é lindo!
E vai caindo
Nas ruas da minha aldeia
Que de neve está já cheia!
1930
CAMPOS DE OIRO
ao Se. Db. J. S. BERNARDINO.
Campos de oiro, campos de oiro,
Campos de farta seara,
Por serdes grande tesoiro
Não sejais de gente avara...
Dai de comer aos famintos,
Como benção santa e rara!
São de oiro as vossas espigas
Nas secas hastes pendentes;
Cortadas por raparigas
Tão formosas, tão ridentes!
Sois o orgulho dos donos
E dos pobres indigentes...
Campos de oiro, pareceis
Mesmo feitos de luar...
Mas eu vos peço que deis
Alento a quem mendigar!
Que sejais dos pobrezinhos,
Campos de oiro e de luar...
Como é belo Portugal
De fama e glórias antigas!
Por cima, azul sem igual;
Por baixo, o oiro d'espigas
E, na costa, o mar rezando
Incessante, sem fadigas!
A MINHA TERRA
Não há terra como a minha
A minha aldeia adorada,
Terra onde brilham dois sóis:
Os olhos da minha amada!
Esses olhos meigos, ternos,
De fulgor celestial,
Cujo olhar brando e bemdito
Mitigam meu fundo mal!
Quando a lembro, a nostalgia
Na minha alma s'incendeia...
Oh! não há, em todo o mundo,
Terra igual à minha aldeia!
Sem comentários:
Enviar um comentário