terça-feira, 5 de janeiro de 2010

FLORES SINGELAS

CAI NEVE

A M. ROSEIRO,


Lentamente

Cai a neve

E em breve Põe tudo da côr do linho;

Cai neve, cai de mansinho!...

Os telhados

Já alvejam;

Não verdejam Os campos tão deleitosos.

Vão os regatos chorosos!...

Cai a neve

Mansamente...

De repente

Calaram-se os passarinhos!

E pisam-na os pobrezinhos

Tão errantes

Tão gelados,

Desgraçados!

Vão descalços e rotinhos

Os tristes dos pobrezinhos!!!

Cai a neve,

Choram fontes

Pelos montes

E a neve cai lentamente,

Mansa e fria! De repente

Tudo é branco,

Tudo é lindo!

E vai caindo

Nas ruas da minha aldeia

Que de neve está já cheia!

1930


CAMPOS DE OIRO

ao Se. Db. J. S. BERNARDINO.


Campos de oiro, campos de oiro,

Campos de farta seara,

Por serdes grande tesoiro

Não sejais de gente avara...

Dai de comer aos famintos,

Como benção santa e rara!


São de oiro as vossas espigas

Nas secas hastes pendentes;

Cortadas por raparigas

Tão formosas, tão ridentes!

Sois o orgulho dos donos

E dos pobres indigentes...


Campos de oiro, pareceis

Mesmo feitos de luar...

Mas eu vos peço que deis

Alento a quem mendigar!

Que sejais dos pobrezinhos,

Campos de oiro e de luar...

Como é belo Portugal


De fama e glórias antigas!

Por cima, azul sem igual;

Por baixo, o oiro d'espigas

E, na costa, o mar rezando

Incessante, sem fadigas!


A MINHA TERRA


Não há terra como a minha

A minha aldeia adorada,

Terra onde brilham dois sóis:

Os olhos da minha amada!


Esses olhos meigos, ternos,

De fulgor celestial,

Cujo olhar brando e bemdito

Mitigam meu fundo mal!


Quando a lembro, a nostalgia

Na minha alma s'incendeia...

Oh! não há, em todo o mundo,

Terra igual à minha aldeia!








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