UM SONHO
A ROSA MÁRTIR
Eu sonhei tanta ventura,
Tanta ventura sonhada!
Para quê? Se a vida é dura?
Sonhos não valem de nada!
Eu sonhei que morava
Numa pequena casinha
E pelos campos ficava
Isolada, mui branquinha...
Sonhei, querida, sonhei
Que eu habitava contigo,
Mais vaidoso do que um rei
Por tu viveres comigo...
Mesmo junto à nossa casa
Ficava um jardim pequeno.
A nossa alma andava raza
Dum amor casto, sereno!
Do jardim no meio havia
Um lago de água tão pura!
Tudo era riso, alegria...
Tudo era prazer, ventura!...
Cantavam os passarinhos Entre a verde ramaria,
Talvez dentro de seus ninhos,
A trasbordar de alegria.
E nós sorrindo, sorrindo,
Sorrindo constantemente...
Como era tudo tão lindo,
Como eu vivia contente!
Ao vermos, à tarde, vir
O pastor para a choupana,
Lá iamos nós ouvir
O som da flauta de cana.
E logo de madrugada,
Ao cantar da cotovia,
íamos ver a cabrada
Que uma pastora mungia...
Querida, como era lindo
O viver que tinha assim!
E tu sorrindo... sorrindo...
Sempre sorrindo p'ra mim!
Eu então também sorria
Por te ver sorrindo assim...
Pois eu só tenho alegria
Quando tu ris para mim.
Eu sonhei tanta ventura,
Tanta ventura sonhada...
Para quê? Se a vida é dura?
Sonhos não valem de nada!
1930.
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