quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

UM SONHO

UM SONHO

A ROSA MÁRTIR

Eu sonhei tanta ventura,

Tanta ventura sonhada!

Para quê? Se a vida é dura?

Sonhos não valem de nada!

Eu sonhei que morava

Numa pequena casinha

E pelos campos ficava

Isolada, mui branquinha...


 

Sonhei, querida, sonhei

Que eu habitava contigo,

Mais vaidoso do que um rei

Por tu viveres comigo...

Mesmo junto à nossa casa

Ficava um jardim pequeno.

A nossa alma andava raza

Dum amor casto, sereno!


 

Do jardim no meio havia

Um lago de água tão pura!

Tudo era riso, alegria...

Tudo era prazer, ventura!...

Cantavam os passarinhos Entre a verde ramaria,

Talvez dentro de seus ninhos,

A trasbordar de alegria.


 

E nós sorrindo, sorrindo,

Sorrindo constantemente...

Como era tudo tão lindo,

Como eu vivia contente!

Ao vermos, à tarde, vir

O pastor para a choupana,

Lá iamos nós ouvir

O som da flauta de cana.


 

E logo de madrugada,

Ao cantar da cotovia,

íamos ver a cabrada

Que uma pastora mungia...

Querida, como era lindo

O viver que tinha assim!

E tu sorrindo... sorrindo...

Sempre sorrindo p'ra mim!


 

Eu então também sorria

Por te ver sorrindo assim...

Pois eu só tenho alegria

Quando tu ris para mim.

Eu sonhei tanta ventura,

Tanta ventura sonhada...

Para quê? Se a vida é dura?

Sonhos não valem de nada!


 

1930.

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